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Querida Rita Lee, sempre achei que seu nome era um pseudônimo. Quem poderia ter sido registrada com um nome TÃO legal?? Sempre te achei lind...

quarta-feira, setembro 21, 2011

LIMITE

Debaixo D'agua (Arnaldo Antunes)

Debaixo d'água tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Debaixo d'água se formando como um feto, sereno, confortável, amado, completo, sem chão, sem teto, sem contato com o ar
Mas tinha que respirar
Todo dia, todo dia, todo dia, todo dia, todo dia, todo dia...

Debaixo d'água por encanto, sem sorriso e sem pranto, sem lamento e sem saber o quanto esse momento poderia durar
Mas tinha que respirar
Debaixo d'água ficaria para sempre, ficaria contente, longe de toda gente, para sempre no fundo do mar
Mas tinha que respirar
Todo dia, todo dia, todo dia, todo dia, todo dia, todo dia...

Debaixo d'água protegido, salvo, fora de perigo, aliviado, sem perdão e sem pecado, sem fome, sem frio, sem medo, sem vontade de voltar
Mas tinha que respirar
Debaixo dágua tudo era mais bonito, mais azul, mais colorido, só faltava respirar
Mas tinha que respirar
Todo dia, todo dia, todo dia, todo dia, todo dia, todo dia...

Mais uma reunião na Escola de Miguel com Coordenadora Solange, a Professora Adriana, a Diretora e Eu, sobre o comportamento do aluno Miguel, de 6 anos de idade e que está no 1.º ano.

Já participei de inúmeras reuniões. Se eu não sou a única mãe a ser chamada, eu fico por último porque as pessoas que lidam com o Miguel sempre precisam muito falar comigo. Às vezes eu sinto vontade de sair correndo, sinceramente, mas normalmente enfrento. Na reunião a professora dele me falava "ele não está fazendo nada, se joga no chão, faz barulho com a boca, bate com o lápis na carteira, não faz a lição, atrapalha a classe, não obedece ninguém... eu quero providências, providências. Ele precisa de limite!" A professora de artes também tem muito a reclamar: "ele não desenha, não pinta. Ele precisa de remédio". A Coordenadora é a única que fala "gente, ele só tem 6 anos, é muito imaturo... a mãe dele a gente sabe que pode contar porque ela já faz tratamento com ele e ele já está diagnosticado".

Realmente, Miguel está diagnosticado com TDA.
- A Psicóloga Cida fala: "ele é um menino feliz, alegre, inteligente, esperto, rápido, não apresentou nenhum trauma... vou dar alta mas, se precisar,  é só me ligar".
- A Psiquiatra Patrícia fala: "ele é inteligente, interage com o ambiente, está bem estimulado e não será medicado. Ele só precisa de limite".
- O Neuropediatra Marcos César fala: "ele não é um hiperativo clássico. Esta professora não está com nada. Eu o mudaria de escola". Prescreveu exames de sangue e um eletroencefalograma em vigília es sono.
- A Psicoterapêuta Ana Maria fala: "hoje tivemos um desentendimento, mas ele irá cooperar no próximo atendimento. Pode não parecer mas ele está melhorando". Ela coloca limite nele, por isso o desentendimento.
- A Psicomotricista Paula fala: "ele está dificil", mas ela consegue que ele obedeça e coloca limite nele.

Quem não gostaria de não ter limite e de fazer o que bem quisesse?? Acordar tarde, sair, correr, comprar de tudo... trabalhar quando bem entendesse... mas, temos nossos limites e somos obrigados a obedecê-lo: acordar cedo, trabalhar muito, se divertir pouco, descansar pouco, chegar em casa e encarar a segunda jornada de trabalho... todo o dia!

Meu filho Miguel foi diagnosticado com TDA aos 5 anos por uma estagiária que estava fazendo pós graduação no GAE. O Miguel foi o material de trabalho dela. Ela tem uma carreira acadêmica e é perita em TDAH. Ela me disse que existe uma "técnica" para lidar com alunos com este transtorno para que eles prestem atenção!! Ela dá aulas na UNICAMP para Professores sobre técnicas para aplicação em alunos com este transtorno. Só que o Estado não toma nenhuma providência com relação ao problema que cresce cada vez mais. São muitos alunos onde vários não conseguem acompanhar e acabam ficando à berlinda. O Estado não paga nenhum tipo de curso para os Professores que, se quiserem se "capacitar", terão que pagar do próprio bolso. O  Miguel fez o EMEI perto do meu trabalho. Ele foi indicado por uma Professora que é Psicóloga e que conseguiu um tratamento gratuito para ele no GAE (que é caríssimo).

A Professora fala que o Miguel não tem limite. Na minha casa ele tem limite sim. Na Clínica que ele frequenta também. Só não tem na escola porque ela não coloca limite nele... eu não posso colocar limite nele na escola, lá o território é dela. O máximo que eu posso fazer é falar com ele todos os dias para obedecer à Professora, funcionários, regras da Escola.

A Educação está uma calamidade.

E a pergunta que não quer calar: O que fizeram com a cartilha Caminho Suave? Mas esta é uma outra estória.

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