A festa de aniversário de 16 anos de minha irmã ia ser comemorada no sábado, mas o Benê veio no finalzinho da tarde trazer o presente dela. Não quis esperar. Trouxe uma caixa enorme! E dentro da caixa havia outra caixa, e outra, e outra... Ele embrulhou cada uma delas com papel de presente. Rimos demais, de cair no chão de tanto rir. Não lembro o que ele deu, acho que um sabonete porque, no aniversário dele, todos nós demos sabonete para ele. Ele quis devolver o presente... Combinamos dele voltar no sábado para comer bolo. Estávamos ansiosos esperando a festa.
No sábado a tarde a festinha começou, só para os amigos da rua. E todos chegaram e o Benê nada! Falei: ah, não é possível ele furar, vai ver morreu!! Mas, se ele não morreu, amanhã eu mato ele!!" E realmente ele não apareceu.
No domingo, logo de manhã, tivemos a triste notícia de que o Benê havia falecido. Ele sofria de epilepsia e morreu dormindo, uma tristeza sem fim. No velório do Crematório de Vila Alpina só tinha a criançada da rua chorando. Ele tinha apenas 15 anos. A morte caiu como uma bigorna em minha cabeça. Foi o nosso primeiro contato com a morte.
Se o Benê não tivesse ido na véspera do aniversário, não teríamos rido nem nos divertido tanto.
E eu aprendi que não podemos esperar o momento certo para comemorarmos nada, para sermos felizes, não podemos! Simplesmente porque não temos esse momento... nosso tempo não nos pertence. Nossa vida é emprestada. Que possamos aproveitar melhor o nosso tempo, porque ele não volta.